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Witches: a poesia e o simbolismo de Daisuke Igarashi


A dualogia Whitches narra pequenos contos sobre bruxas, seja em meio a densa floresta amazônica, no frio europeu, ou ainda no Japão. Temos o relato de diferentes mulheres, numa escala pessoal e intima, onde nada é por acaso, ou genérico, não se faz o bem ou o mau sem motivos ou por razões incompreensíveis, cada uma possui forças e fraquezas, medos e conhecimentos, seus laços e prisões pessoais, levando-as a seguir aquilo que acreditam ser o caminho que lhes cabe, seja através de atitudes condenáveis e/ou de extremo desapego de si em prol do todo.

A arte de Igarashi é lindíssima e consegue dar enfase a cada personagem ao dar enfase ao meio em que cada uma está inserida. É interessante ver como ele consegue aproxima-las em suas histórias, sem tirar a individualidade da realidade, do mundo, de cada uma. As roupas, as crenças, o modo como cada uma desenvolve seu dom e o utiliza, as paisagens, tudo contribuiu para tornar cada uma delas unica.

Os contos são repletos de simbolismo, com momentos poéticos e profundos, que caminham para o filosófico, destacando a relação entre tudo que vive nesse mundo e sobre como nos tornamos menos, até do que nós mesmos, ao nos desfazer de tais laços e como nos tornamos mais e mais completos ao percebermos que somos uma pequena parte do todo, mensagem que sempre esteve muito ligada a bruxaria, mas pode facilmente ser compreendida e absorvida para além deste imaginário.

No primeiro volume temos:
“SPINDLE” conta a história de Nicola, que voltou à capital após obter uma poderosa força, sem esquecer a rejeição que havia sofrido de um rapaz na juventude. Também fala sobre Shiral, menina de uma tribo nômade que viaja à capital com uma missão. Em “KUARUPU”, a xamã Cumari perde seu amor em meio ao conflito contra a derrubada da mata e o desenvolvimento da região de sua tribo. 
Spindle é um dos contos que apresenta mais de uma mulher com dons, de um lado temos Nicola, que busca se vingar a qualquer custo daquele que a rejeitou no passado, do outro, Shiral, uma garota de uma tribo nômade, que assim como todas as mulheres de sua família, possui o dom de receber mensagens através do ato de fiar, e precisa levar tal mensagem a alguém na cidade. Cada uma ruma para seu objetivo a sua maneira, o que culmina em um encontro que expressa bem o intuito do autor em nos mostrar como podemos nos perder em nosso caminho e em como isso pode ser desastroso.

Já em Kuarupu, conhecemos Cumari, ainda garota, ao lado daquele que seria seu amor, e que ela perderia devido aos conflitos por terras na Amazônia. Logo Cumari, assim como Nicola, busca vingança, mas não apenas por si, mas por todos que foram mortos e pela própria natureza que está sendo destruída, o que culmina num final impactante, não só para a narrativa dela, mas também para nossa percepção dessa realidade.

Além dos dois contos, temos ainda a história bônus, A bruxa montada no pássaro, que apesar de curtíssima, nos fala sobre um senhor que diz receber a visita de sua irmã, que vem visitá-lo montada em um pequeno pássaro, além de mais uma vez destacar o poder de enxergar para além dos outros, este extra apresenta uma informação que o conecta ao volume seguinte de Witches.
Quando profundos sentimentos afloram, a magia desperta. 
No segundo volume temos as histórias:
"Em PETRA GENITALIX, um acidente no espaço muda a vida de Alicia e da grande bruxa Mira, que vivem isoladas nas montanhas do norte da Europa. Em LADRA DE CANÇÕES, a estudante colegial Hinata viaja em um barco que segue para o sul, fugindo da monotonia insuportável de sua vida vazia. Nessa viagem, ela conhece uma mulher misteriosa, Chitaru. 
Petra Genitalix nos leva a Europa, mais especificamente a casa da bruxa Mira, que acolhe a jovem Alicia em sua casa. Um conto acolhedor, a medida que vamos acompanhando a relação das duas e o desenvolvimento de Alicia e seus dons, mas que logo toma novos rumos quando a Petra Genitalix começa a destruir o mundo como o conhecemos e Mira precisa tomar uma atitude.

Em Ladra de Canções, temos Hinata, uma garota que não consegue se conectar consigo mesma e com o mundo a sua volta, e que, durante uma fuga em busca de sentir algo, conhece Chitaru, uma mulher que parece lhe entender e lhe fala sobre uma ilha que canta certa canção e que pode ajuda-la a finalmente despertar, porém há uma regra que Hinata não pode quebrar e talvez as motivações de Chitaru ao ajuda-la não sejam tão boas assim.

E também um história bônus denominada Praia, na qual temos uma garotinha que, na busca por sua gata desaparecida, acaba indo a praia Gusso, que significa Mundo dos Mortos, onde tudo que é levado pela água vai calhar.
Quando alguém testemunha o sobrenatural, a magia passa a habitá-lo. “Majo”, “Witches”, “Bruxas”. Estas são as histórias misteriosas e fantásticas que ganharam vida e poesia por Daisuke Igarashi.
Assim sendo, com traços que destacam a beleza e força de suas personagens e suas histórias, Igarashi criou narrativas poderosas e encantadoras, que nos fazem questionar atitudes, hábitos, e incentivam o despertar dos mesmos.

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Rayanne Costa
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