Em anos intercalados, tendo seu início com Rogue One, de 2016, a Disney está criando seu projeto de filmes spin-off sobre o universo Star Wars. O segundo filme da sequência teve seu lançamento em Maio de 2018 e traz um pouco mais sobre o passado do amado cafajeste da franquia, Han Solo. Leia agora, sem spoiler, a resenha sobre o filme Han Solo:Uma História Star Wars.
Mexer com um personagem tão consolidado dentro de um fandom exigente e atrelado ao seu interprete original com tanta força como Harrison Ford, pode ser algo semelhante a brincar com vespeiro. Para a Disney, de fato, a execução deste filme foi um caminho tortuoso. A começar pela demissão dos diretores Chris Miller e Phil Lord quando a maioria das filmagens estavam prontas, a passar pela contratação de Ron Howard, diretor com uma carreira tão flutuante no quesito qualidade, as implicações com Alden Ehrenreich como o novo Han Solo.
Quando sentei na sala de cinema, procurei me munir de otimismo já que as críticas estavam tão divididas. Queria entender o mistério que rondava a personagem de Emilia Clarke, saber se Lando de Donald Glover seria mesmo a alma do filme como muitos especulavam, e mergulhar em uma boa ação. Que surpresa a minha ao descobrir que não precisava de esforço algum para me empolgar e divertir durante as 2h 15m de longa.
Han Solo tem uma atmosfera aventuresca e com a cara do universo expandido. Sua primeira cena mostrando Han em Corellia e toda a ambientação do planeta natal do contrabandista, unida a perseguição dele e Qi'ra pelos algozes alienígenas me remeteram a diversidade de cenários e pluralidade de Clone Wars. A proposta de trazer mais e mais espécies diferentes é muito explorada aqui, algo que falta bastante nos Episódios e que endossa o conceito de galáxia.
Locais novos, aliás, não param de aparecer. O espaço ou as naves não são os palcos principais dos conflitos, eles acontecem em planetas inóspitos cobertos por névoa, desertos a se perder de vista, mundos congelados e cantinas apinhadas de seres estranhos, tudo bem ao estilo famoso de biomas/pocilgas da saga. A fotografia ajuda muito e cumpre sua função quando quer nos mostrar a vastidão ao redor em comparação a pequenez dos personagens nela. Sua saturação vai para tons de laranja e terroso quando estamos acompanhando os momentos ladinos de Han e muda para matizes azuis e brancas ao estarmos dentro da Millennium Falcon, no seu cockpit, tendo de sobreviver ao percurso de Kessel.
Os personagens do elenco "do bem" e seus respectivos atores estão entregam bem nas atuações e propostas de cada um. Alden Enrenreich está muito distante de ser aquele desastre que esperávamos. O ator captou a linguagem corporal, os trejeitos e atitudes de Han sem parecer forçoso ou caricato. A fotografia novamente fez sua parte em criar ângulos remetendo a identidade visual à Harrison Ford também.
Emilia Clarke traz a enigmática Qi'ra e segue misteriosa e vivaz, sendo a mais carismática do elenco. Seu background no início do filme e a diferença da metade para o final, nos deixa querer entender mais sobre as motivações dela.
Donald Glover é Lando Calrissian com uma competência semelhante na captura de personalidade de sua parte anterior, como é Alden com Solo. Não vemos muitas cenas com estiloso jogador de sabacc, um pouco triste ao meu ver, mas ele funciona bem quando está contracenando com Han. Menção honrosa para sua robô, a militante L3, que faz um link muito legal e sutil a trilogia clássica.
Woody Harrelson encarna o contrabandista mais experiente Tobias Beckett, carregando a mesma persona de todos os seus trabalhos, ele mesmo, mas nem por isso sendo inferior. Chewie, Joonas Suotamo, tem uma dinâmica imediata com seu parceiro e amigo da vida e a cena de encontro dos dois é surpreendente, engraçada e assustadora, ou seja, a química entre eles nasceu para ser imediata.
No lado antagonista, senti falta de uma presença mais marcante. Paul Bettany como Dryden Vos nos parece muito ameaçador e promissor no início, mas sua vilania esfria no ato final. Da mesma forma, Enfys Nest possui uma entrada intimidadora na história, a certeza de um opositor obstinado aos mocinhos, contudo tem a sua imagem e importância ceifadas também no final.
A direção de Ron Howard superou meus medos quanto ao último filme que vi dele no cinema, Inferno, que foi uma verdadeira tortura para mim. Aqui ele nos trouxe dinamismo nas cenas de ação, nada de acontecimentos desenfreados e câmeras nervosas, arrancou boas atuações dos atores e escolheu ângulos que os privilegiassem enquanto releituras de seus pares antigos, e nos proporcionou o frescor da aventura interplanetária que Star Wars costuma trazer e não estava presente em Episódio VIII.
Han Solo: Uma História Star Wars é, acima de tudo, divertido. Com boas atuações de Alden Enrenreich, seu protagonista, nos mostra o início da sua relação com Chewie e Lando, os caminhos que o levaram a não confiar nas pessoas e seu encontro glorioso com a Millenium Falcon. Os novos personagens, exceto Qi'ra, vão passar esquecíveis para nós e os vilões não tem peso algum. A direção nos empolga enquanto aventura galática, levanta easter-eggs aos montes para os fãs do material expandido e dos Episódios regulares, traz diversidade alienígena e um gancho de continuações.
Nota 3,5/5.
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