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Sobre o personagem 'acomodado'


Recentemente vi ao filme 'Não me abandone jamais', já havia me contido muito, devido ao desejo de ler o livro de Kazuo Ishiguro antes, porém - obviamente - não resisti. E este provavelmente poderia ser um post sobre o quanto gostei da obra, ou onde o relacionaria ao filme 'A chegada', porém alguns comentário sobre o mesmo no filmow me levaram a tentar responder um questionamento que muitos faziam.

Qual era o questionamento? Por quê os personagens não se revoltaram com sua condição e criaram uma revolução (não vou citar que condição seria porque desejo que esse post tenha o mínimo de spoiler necessário para abordar o tema). Vi uma quantidade considerável de pessoas se questionando e reclamando do filme por não trazer isto, ou ainda culpando os personagens, colocando-os como personagens mal elaborados ou similar, por não tomarem uma atitude diante do que lhes acontece.

Creio que é nesse ponto que digo que acredito que há um vicio na maioria dos espectadores de esperar que os personagens sejam os heróis que salvam o dia, que se revoltam contra o sistema, que matam/destroem o vilão/monstro, salvem a mocinha, etc, mas será que esse é o desenvolvimento realmente mais cabível? Será que se pararmos para olhar ao redor (sim, o cinema é um expressão humana, da vida humana) e até para nossa história é isso que acontece?

Me parece que não, talvez os 'herois' estejam marcados na história e a gente aprenda sobre eles na escola, mas se pararmos pra pensar em quantos simplesmente deixaram as coisas acontecerem, acredito que teremos uma variação estrondosa de números. Temos judeus e muitos outros mortos por Hitller, crianças indo pra guerra - em qualquer guerra -, e, atualmente, crianças com fome na Africa, conflitos nos países árabes. São uns poucos exemplos de muita coisas vistas como inaceitáveis que muitos aceitaram e aceitam. Nós aceitamos.

Porque então não podemos lidar com personagens que aceitam a vida como lhe é dada/imposta? Talvez porque nos identificamos, lembramos de nosso comodismo ao ver o deles. Talvez já não saibamos como lidar com o personagem que não chega botando toda uma sociedade abaixo (tivemos muitos Jogos Vorazes e similares nos 'alimentando') e apenas 'vive sua vida' sem questionar. Talvez não seja nada disso. Só o que me parece certo é que há valor em tais personagens e que não consigo subvalorizar uma obra só porque ela os contem.

'Talvez nenhum de nós realmente entendesse aquilo que vivemos, ou sentimos que tivemos tempo suficiente'.

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Rayanne Costa
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