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Resenha: Quem era Ela, de J P Delaney




Tudo que é seu hoje, um dia já foi dela. Ela era como você. E, ao tentar fugir, você fará as mesmas escolhas e seguirá pelo mesmo caminho.
É preciso responder a uma série de perguntas, passar por um criterioso processo de seleção e se comprometer a seguir inúmeras regras para morar no nº 1 da Folgate Street, uma casa linda e minimalista, obra-prima da arquitetura em Londres. Mas há um preço a se pagar para viver no lugar perfeito. Mesmo em condições tão peculiares, a casa atrai inúmeros interessados, entre eles Jane, uma mulher que, depois de uma terrível perda, busca um ponto de recomeço.
Jane é incapaz de resistir aos encantos da casa, mas pouco depois de se mudar descobre a morte trágica da inquilina anterior. Há muitos segredos por trás daquelas paredes claras e imaculadas. Com tantas regras a cumprir, tantos fatos estranhos acontecendo ao seu redor e uma sensação constante de estar sendo observada, o que parecia um ambiente tranquilo na verdade se mostra ameaçador.
Enquanto tenta descobrir quem era aquela mulher que habitou o mesmo espaço que o seu, Jane vê sua vida se entrelaçar à da outra garota e sente que precisa se apressar para descobrir a verdade ou corre o risco de ter o mesmo destino. Com um suspense de tirar o fôlego e um clima de tensão do início ao fim, JP Delaney constrói um thriller brilhante repleto de reviravoltas até a última página. Uma história de duplicidade, morte e mentiras.”

      Um livro com uma sinopse tão grande é, ironicamente, uma poça d’água literária. Certamente, ao escolher este tipo de leitura para nos entreter, não estamos esperando algo rebuscado ou profundo. Nós queremos diversão sim, mas esta diversão pode vir com qualidade. Quem era Ela não atende a este simples quesito e ainda pode fazer o leitor ficar irritado enquanto o autor tenta nos enganar com problemas sociais importantes, mas aqui, vazios.

         Li em uma resenha do Skoob que esta história era uma espécie de Cinquenta Tons de Cinza e acho que corre o risco disso ser a coisa mais certeira que você lerá hoje! Christian Grey perambula neste enredo no clichê do prepotente ricaço com tendências sadomasoquistas, porém, agora, dentro de um romance criminal. Acho que este motivo já está bom para não ler, não é? Pera, tem mais.

         No geral, todos os personagens deste livro são os arquétipos típicos do gênero e nada me fez revirar mais os olhos do que a construção das protagonistas. Duas mulheres malucas, cheias de problemas psicológicos autodestrutivos, e que o autor ludibriou (ou tentou) aos olhos do leitor para parecer que ele estava sendo muito engajado e inteligente em suas “críticas sociais”.
      Nenhum dos assuntos expostos na história, abuso sexual, relações abusivas, negligência médica, ineficiência policial, preconceito e transtornos psicológicos ganha a seriedade pelo qual merece ser abordada. As personagens femininas começam e terminam as mesmas desvairadas, os homens mantém seu ciclo de abuso e os argumentos polidos perdem o brilho num saldão de moralismo salpicado sobre as páginas para enfeitar um suspense raso.
           JP Delaney, pseudônimo do escritor inglês Tony Strong, não traz nenhuma narrativa extraordinária. Ele se utiliza desta fórmula que está na moda para os thrillers psicológicos, alternando entre pontos de vistas e linhas do tempo. O texto é cru, desprovido de brilhantismo e tedioso pelo excesso de informações desnecessárias. Sua capacidade de ocultar as revelações é ineficiente e, mesmo com uma leitura superficial, você começa a ligar os pontos sobre o que há de errado. O plot twist morre decepcionante pela obviedade.
        Em suma, Quem era Ela não é uma leitura recomendada nem para fãs do gênero. Nessa amálgama de romances baratos, Gillian Flynn é mais perspicaz, Sidney Sheldon mais criativo e Harlan Coben mais divertido.
        Curiosidade: informações na internet apontam que os direitos foram vendidos para um filme dirigido por Ron Howard. Se for verdade posso adiantar: pior não fica.

Dados da Obra
Título: Quem era Ela 
Autor: J P Delaney
Editora: Intrínseca 
Tradutor: Alexandre Raposo
Páginas: 336

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